Muxima

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17 Setembro – 23 Outubro 2021

Muxima: feels like earth smells like heaven
Edson Chagas
Curadoria de Inês Valle

Vivemos em tempos incertos – felizmente… Numa era de incerteza, a mente deve permanecer ativa: nunca uma resposta é única. O que é agora pode não o ser no futuro e o modo como eu vejo as coisas pode não ser o mesmo que o teu, ou mesmo como verei dentro de alguns momentos… Numa era de incerteza, a ambiguidade torna-se discernimento; a realidade é encontrada no paradoxo; e a verdade torna-se relativa – estas foram palavras escritas há vinte anos por Alasdair Foster, e eu sinto-as a ressoar intrinsecamente no tempo de hoje.

Agora, importa tanto a forma como nos relacionamos uns com os outros, como o ambiente que nos abraça. Isto porque, talvez atualmente, todos nós tenhamos vivido de forma consciente acontecimentos que nos forçaram a refletir sobre o interior de nós próprios. De forma inevitável, e contra o que uma sociedade capitalista tem ditado sobre as nossas formas de comportamento do ego, hoje aproximámo-nos, não devido às geografias políticas ou religiosas, mas porque talvez compreendamos que somos todos parte de um ecossistema que só funciona se todos os membros estiverem saudáveis.

Não estou especialmente interessada em falar sobre a atual pandemia mundial, mas é-me inevitável não a mencionar nesta exposição. A série fotográfica “Muxima – feels like earth but smells like heaven”, por Edson Chagas, tornou-se viva durante o confinamento, num tempo em que o artista decidiu organizar os seus arquivos fotográficos, fazendo-o viajar ao seu próprio ritmo ao longo das suas centenas de imagens.

Num período tão peculiar na história da Humanidade, fez sentido para Edson selecionar estas obras para a sua primeira exposição individual em Portugal, que inaugura também o programa da galeria .insofar em Lisboa. Imagens que resultam de uma viagem realizada pelo artista há 10 anos ao mais importante local de peregrinação do seu país, a vila de Muxima: “coração” na língua Kimbundu, que se situa a poucos quilómetros de Luanda, serpenteada pelo rio Kwanza.

 

No entanto, esta exposição não é sobre o lugar Muxima. Mas com toda a sua significância é para o artista o mote para um caminho de introspeção. Por meio de grandes planos impressionistas e através de registos fotográficos que subvertem a lógica da vida selvagem comum ou de fotografias paisagísticas, onde o seu foco não é a flora nem a fauna, mas sim as texturas do solo e do movimento – resquícios de memórias visuais, de momentos que chamaram a atenção do artista nesta sua viagem – imagens que foram abandonadas

nos seus arquivos fotográficos, às quais agora regressa para redescobrir estes preciosos momentos que estavam perdidos no tempo. Em séries anteriores, o artista leva-nos a olhar para pormenores do espaço urbano que ele considera relevantes, de modo a refletir sobre questões como globalização, consumismo, migrações ou mesmo sobre as nossas identidades numa sociedade em constante mutação. Agora, pela primeira vez, há um estímulo para o mergulho interno consciente, já que Edson nos convida a olharmos para o movimento das borboletas minerais, que metaforicamente nos falam das nossas vivências e desafios que enfrentamos. Seja como for, em ambos os casos, o tema da desaceleração é recorrente. Em Muxima, vislumbramos vestígios e reminiscências das inúmeras decisões possíveis, através de noções elásticas de tempo, movimento e perceção do espaço que um “voo” assente numa decisão interna pode expressar.

De uma forma geral, a sociedade de consumo faz apelos constantes a uma excessiva produção de imagens que contaminam a nossa perceção individual não criteriosa. Nesta exposição, as imagens poéticas de Edson fazem-nos olhar para os pequenos e subtis detalhes, que nos encaminham para apreciar o momento do “agora”. Tal como acontece no romance de Arundhati Roy “O Deus das Pequenas Coisas”, a escritora narra minuciosamente cada momento da sua história, capacitando-nos a recriar facilmente toda uma ambiência que

pelas palavras ela nos retrata. Metaforicamente, assemelha-se às borboletas das imagens de Edson, que nos levam a refletir em múltiplas histórias, relações, viagens e decisões que alguém poderia ter numa vida.

O espaço expositivo aparenta ser uma caixa escura fechada que nos induz para a introspeção, para uma inevitável busca e encontro com o tremeluzir mais ou menos intenso daquela luz que existe dentro, dentro… E num estado de auto-observação podemos ficar, quando de cima para baixo nos focamos, a ver nas obras as luminosas borboletas de Edson em caixas agora encerradas, sobre um chão de terra pousadas e iluminadas por feixes de luz que delas saem vivos e verticais, rumo a um lugar externo por definir.

THE ELASTICITY OF TIME WITHIN MEMORIES texto curatorial de Inês Valle

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para ler a versão portuguesa – por favor envie-nos um e-mail

vista de exposição
artista

Edson Chagas (Angola, 1977)

A prática fotográfica de Edson é principalmente urbana, inscrita em eixos físicos e conceptuais que são simultaneamente locais e globais. Edson trabalha em série, muitas vezes mantida aberta e inacabada, à qual regressa ao longo do tempo, destacando o aspeto meditativo uma prática em que gestos performativos, mais ou menos aparentes, assumem um papel essencial.

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